terça-feira, 18 de março de 2008

O Juvenal

O Juvenal estava desempregado há meses.
Com a resistência que só os brasileiros têm, o Juvenal foi tentar mais um
emprego em mais uma entrevista. Ao chegar no escritório, o entrevistador
observou que o candidato tinha exatamente o perfil desejado, as virtudes
ideais e lhe perguntou:

-Qual foi seu último salário?

- "R$950,00", respondeu Juvenal.

- Pois se o Sr. for contratado ganhará 10 mil dólares por mês!

-Jura?

-Que carro o Sr. tem?

- Na verdade, só tenho um fusquinha velhinho que nem anda mais!

-Pois se o senhor trabalhar conosco ganhará um Audi para você e uma BMW para
sua esposa! Tudo zero!

-Jura?

-O senhor viaja muito para o exterior?

-O mais longe que fui, foi pra Belo Horizonte, visitar uns parentes...

-Pois se o senhor trabalhar aqui viajará pelo menos 10 vezes por ano, para
Londres, Paris, Roma, Mônaco, Nova Iorque, etc.

- Jura?

-E lhe digo mais... O emprego é quase seu. Só não lhe confirmo agora porque
tenho que falar com meu gerente. Mas é praticamente garantido. Se até amanhã
(sexta-feira) à meia-noite o senhor NÃO receber um telegrama nosso
cancelando, pode vir trabalhar na segunda-feira.

Juvenal saiu do escritório radiante. Agora era só esperar até a meia-noite
da sexta-feira e rezar para que não aparecesse nenhum maldito telegrama.

Sexta-feira mais feliz não poderia haver. E Juvenal reuniu a família e
contou as boas novas.

Convidou todos os vizinhos para uma churrascada comemorativa a base de muita
música. Sexta de tarde já tinha um barril de choop aberto. As 9 horas da
noite a festa fervia. A banda tocava, o povo dançava, a bebida rolava solta.
Dez horas, e a mulher de Juvenal aflita, achava tudo um exagero.
A vizinha gostosa, interesseira, já se jogava pra perto do Juvenal.

E a banda tocava!

E o choop gelado rolava!

O povo dançava!

Onze horas, Juvenal já era o rei da sua rua.

Gastou horrores para o povão encher a pança. Tudo por conta do primeiro
salário. E a mulher resignada, meio aflita, meio alegre, meio boba,
meio assustada.

Onze horas e cinqüenta e cinco minutos........

Vira na esquina buzinando feito louco uma motoca amarela...

Era do Correio!

A festa parou!

A banda calou!

A tuba engasgou!

Um bêbado arrotou!

Um cachorro uivou!

Meu Deus, e agora? Quem pagaria a conta da festa?

- Coitado do Juvenal! Era a frase mais ouvida.

-Jogaram água na churrasqueira!

O chopp esquentou!

A mulher do Juvenal desmaiou!

A motoca parou!

-Senhor Juvenal Batista Romano Barbieri?

- Si, si, sim, so, so, sou eu...

A multidão não resistiu...

-OOOOOHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!

-Telegrama para o senhor...

Juvenal não acreditava...

Pegou o telegrama, com os olhos cheios d'água, ergueu a cabeça e olhou para
todos.

Silêncio total.

Respirou fundo e abriu o telegrama.

Uma lágrima rolou, molhando o telegrama..

Olhou de novo para o povo e a consternação era geral.

Tirou o telegrama do envelope, abriu e começou a ler.

O povo em silêncio aguardava a notícia e se perguntava.- E agora?

Quem vai pagar essa festa toda?

Juvenal recomeçou a ler, levantou os olhos e olhou mais uma vez para o povo
que o encarava...

Então, Juvenal abriu um largo sorriso, deu um berro triunfal e começou a
gritar eufórico.

- Mamãe Morreeeeuuu!!!!! Mamãe Morreeeeuuu!!!!!!!